As estrelas.
Quando permito me distanciar um pouco do agora, prefiro as lembranças boas de há muito tempo atrás.
Certo dia, quando eu não tinha mais de sete anos, meu pai me perguntou se eu queria descer no poço que ele estava fazendo no quintal de casa. Ele o estivera cavando por meses e, naquele momento, estava com trinta metros de profundidade.
Eu disse que tinha medo, ele me disse que eu gostaria da surpresa que me esperava e que o medo desapareceria.
Era meu pai quem falava, seria ele a me descer no poço, dentro de um enorme tambor. Nunca houve alguém em quem eu confiasse mais que meu pai e minha mãe. Então, lá fui poço abaixo dentro do tambor.
Deviam ser umas dez horas de uma bela manhã ensolarada. E o engraçado é que, na medida em que a luz diminuía durante minha descida, o medo desaparecia. Foi quando, ao chegar no fundo do poço e olhar para cima, vi as estrelas naquele pedaço redondo de céu lá em cima.
Era essa a surpresa que meu pai prometera que eu teria, estava vendo estrelas durante o dia. E como criança, eu pensava que as estrelas iam embora para algum lugar durante o dia e retornavam no céu à noite.
É incrível como os acontecimentos marcam a alma das crianças. E foi por coisas assim, que sempre tive o cuidado de aguçar a curiosidade de meus filhos e, na medida do possível, sempre satisfazê-las. Era dessa forma que meu pai e minha mãe sempre me passaram as mais importantes lições que aprendi.
E hoje, aqui neste meu agora, carrego algumas certezas que nortearam e sempre haverão de nortear minha vida. Minhas certezas vieram do amor de meus pais e permanecem em mim como as estrelas no céu, seja dia ou noite, por toda a minha existência.
JOAQUIM SATURNINO DA SILVA
Enviado por JOAQUIM SATURNINO DA SILVA em 02/10/2014
Alterado em 02/03/2015