Um dia, no médio prazo.
O avião desenhou seu rastro branco no céu. Parecia uma nuvem dupla comprida que foi se diluindo na atmosfera. Eram as gotículas de água em condensação, criando uma “nuvem” temporária pela alta temperatura de suas turbinas.
Aqui embaixo, as sementes continuavam a germinar, as plantas a brotarem e as flores a exibirem sua beleza gratuita. O sol continuava impávido seu caminho rumo ao poente, sem pressa, mesmo porque faria tudo isso de novo amanhã, e amanhã, e amanhã. Sem importar-se pelo fato de que não era ele que girava, mas a Terra.
Árvores morriam, por machados ou moto serras, mas a Natureza continuava seu caminho sem nos perguntar se gostávamos ou não.
Certo ou errado para ela era apenas uma questão da mais alta indiferença, mesmo porque não nos devia satisfação.
Ela apenas cumpria seu trabalho e ponto.
E os homens? Ah! Os homens!
Seguiam na sua importância sem sentido, achando cada um ser melhor que o outro. Os interesses, afinal, era o que governava o mundo. Nada havia que pudesse demover alguém de sua completa, absoluta, certeza.
A Natureza continuava seu caminho, sempre serena, no movimento retilíneo uniforme descrito pela física dos cientistas solitários em seus laboratórios, sem se perguntar a razão de seu seguir em frente.
Por quê, afinal, ela deveria se importar? Por qual razão deveria deter o cumprimento de seu trabalho de ser, apenas ser e seguir, se os maiores interessados, na verdade não se interessavam pelo que realmente carecia de um justo interesse?
Assim, ela viu o homem sair das cavernas e perambular pelo mundo.
Observou o nascimento, crescimento e morte do Império Romano.
Assistiu a todas as guerras imbecis possíveis inventadas pelo homem.
Teve que suportar a visão horrível daquele bigode de Hitler e sua loucura espalharem a morte por onde quer que passasse seu exército.
Ela viu a explosão das duas primeiras bombas atômicas matando milhares de humanos, dentro de uma “legalidade” estranha, em nada diferente da ilegalidade do próprio Hitler.
Diante do mesmo espírito de “legalidade”, assistiu a implantação das drogas entre os menos favorecidos de todos os sistemas, como fator de domínio do forte sobre o fraco.
Viu o crime organizado se organizar. Observou a serenidade dos piores assassinos que, com apenas uma caneta, decretava a morte de milhares de semelhantes, com leis espúrias.
Ela, a Natureza, assistiu com tristeza, cada ato insano do terrorismo mundial, tirando vidas sem um mícron de sentido.
Então, um dia, a Natureza parou!
JOAQUIM SATURNINO DA SILVA
Enviado por JOAQUIM SATURNINO DA SILVA em 17/10/2014